segunda-feira, 7 de abril de 2008

It's a (not so) beautiful day

Há dias difíceis.

Hoje foi um deles. Por variadíssimas razões, mas sobretudo por aquelas razões que mais mexem connosco porque somos os únicos responsáveis pelas mesmas.

Uma decisão tomada aos bochechos, hipotecando decididamente os nossos próprios interesses e desejos é algo de que não me orgulho... E hoje foi um dia em que isso quase me aconteceu...
Não quero entrar em pormenores porque é um sentimento negativo, com o qual tenho de lidar, aprender, corrigir e não voltar a repetir. Basicamente... crescer.

À tarde, perspectivas profissionais futuras poderiam concretizar-se... Acrescentando mais confusão ao dia, ou melhor, a mim.

O dia melhorou um pouco quando consegui ligar o iPod, que a Rita me deu nos anos, ao carro e pude substituir as rádios belgas pela música que trouxe de Portugal e mais umas da colectânea do Tânger.

Ficou ainda melhor quando vi a Avó Germana Tânger a ditar um poema de Mário de Sá Carneiro chamado "Caranguejola" (começa no minuto 26 da segunda parte do programa "E Depois do Adeus", de 6 de Abril). Estão avisados de que o Tânger ficou incumbido de organizar um jantar/almoço com a Avó Germana, para podermos ter o prazer de a ouvir "ao vivo" e aos poemas que tão bem diz.

Fica aqui a letra do poema:

"Caranguejola
- Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira -
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais - não quero mesmo brinquedos.
Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com este enleios e medos?
Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar...

Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas...

Se me doem os pés e não sei andar direito,
Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
- Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom edrédon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará.
Pra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. Co'a breca! Levem-me prà enfermaria! -
Isto é, pra um quarto particular que o meu Pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível - por causa da legenda...
Daqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda -
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora, no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras:
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.


Paris - novembro 1915"

Pode ser que amanhã o dia seja melhor...

1 comentário:

Rita disse...

Amanhã o dia vai ser melhor...vai começar bem cedo, e mais crescido com o que aprendeu hoje e cheio de curiosidade para aprender mais alguma coisa...e nós vamos ensiná- -lo a tentar ser feliz na sua sempre curta existência de 24 horas, como fizemos todos os outros dias (nos bons e nos menos bons) da nossa vida...juntos (mesmo que longe)!