segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Argel, Argélia

Terça-feira, 23 de Novembro a Domingo, 28 de Novembro
Tantos dias e nada para contar? Não... Nem pensar nisso! Entre o “não houve tempo” e “nem sempre tive internet” as desculpas oscilam... Mas vamos lá ao que interessa.
O trabalho está a correr bem e todos estão a cooperar. Até o “grande” (lembram-se daquele que esteve comigo no Ghana?) se tem portado bem. O ambiente tem vindo a ser mais descontraído o que ajuda sempre.
Durante estes dias estive no este e no oeste da Argélia. Passei por experiências engraçadas e vi outras curiosidades que vou tentar relatar aqui, sem demorar muito tempo...
Na terça ficámos em Annaba, com direito a escolta policial (4 polícias dentro de um Polo, a fazer barulho com a sirene...) porque tínhamos de ser protegidos. Não sei de quê, nem de quem... E até só faz com que todos olhem para nós. Enfim... Passámos por algumas zonas junto à praia, onde os pescadores desportivos se sentavam debaixo de enormes chapéus de sol para se protegerem... da chuva e do vento. Ao final do dia a escolta já se tinha ido embora. Aproveitámos para jantar no restaurante panorâmico do hotel modelo socialista-comunista dos anos 60.
Na quarta viajámos quase até à Tunisia. Tínhamos uma vista programada no Lago Mellah, uma zona natural protegida de interesse mundial na “wilaya” de El Tarf. E com razão, porque é fantástica! Até lá chegar, passámos por uma vila onde um mercado de rua estava a terminar. Fez-me lembrar as nossas feiras municipais, onde os vendedores são na maioria ciganos. Havia de tudo, apesar da lama e da chuva... Desde legumes até panelas e alguidares, passando pelos sapatos. Tudo isto sem escolta nenhuma porque o perigo parece só morar no centro da cidade... Para chegar perto do lago fizemos um pouco de todo o terreno o que me fez pensar seriamente em tirar um curso de 4x4 no futuro. Já no dito lago, aconteceu-me algo pela primeira vez. Enquanto fazia perguntas ao proprietário do estabelecimento, este começa-se a sentir mal e sai da sala para se ir deitar. Talvez quebra de tensão, pensei eu... Fomos dar uma volta pelo lago e quando voltámos o senhor tinha ido para o hospital com uma suspeita de ataque cardíaco. Fiquei preocupado... (O senhor já voltou a casa entretanto e está bem...). Disseram-me que já tinha acontecido recentemente, mas isso não serviu para me descansar. Não nos fomos embora sem provar as douradas e savelhas do lago grelhadas de propósito, de pé, e à mão!!! Estavam deliciosos. O dia acabou com uma viagem já pelo escuro até ao hotel retro.
Quinta voltámos a ficar em Annaba, com os nossos amigos polícias e o seu Polo. Almoçámos num restaurante junto ao mar, com um menu dedicado ao mar. Aqui come-se peixe fresco muito bom, mesmo. Ao final do dia, mais um martírio: um vôo para Argel. Bem, para falar verdade, o vôo não foi mau, mas toda a logística dos aeroportos argelinos é insuportável. Começa logo pelo controlo à entrada do aeroporto, pelo check-in que é o mais normal de tudo até, depois pelo preencher sempre um papelinho com os dados pessoais e para onde vamos, a seguir o controlo pela polícia desse mesmo papelinho, mais um controlo para entrar na sala de espera... A seguir o óbvio acontece quando o país só dispõe de uma companhia área autorisada a viajar internamente: atrasos de pelo menos 1 hora nos vôos do final da tarde... Perdem-se horas de vida em aeroportos que não têm nada!!! Nem uma lojeca para comprar uns postais para mandar... Segue-se um percurso de autocarro à pinha, uma saída a conta gotas para reconhecer as malas antes de entrar no avião (sim, as mesmas malas que deixámos no check-in estão à nossa espera ao lado do avião...), depois um controlo da bagagem de mão e uma revista pessoal e a seguir avião, mas sem lugares marcados porque pelo caminho ficam-nos com os cartões de embarque (se eu quisesse reclamar ia ser bonito...). Todos os vôos até agora tiveram atrasos...
Sexta ficámos em Argel e despedimo-nos da nossa colega espanhola que nos ajudou para a parte dos bivalves. Foi trabalhar de manhã e penar novamente no aeroporto à tarde. Como vingança comi um hamburguer num “Quick” que existe no terminal, lembrando-me Bruxelas. Chegámos a Oran, a oeste, no melhor hotel da missão e pude provar um bom couscous ao jantar.
Sábado foi talvez o dia mais caricato... Começámos com um Polo e três polícias lá dentro, numa chinfrineira de luzes e som... Depois da primeira visita já eram três motas da “Gendarmerie”, tipo a nossa Guarda Republicana, e o Polo... Foi um ver se te avias de trânsito cortado e alta velocidade... A seguir ao almoço, as motas tinham desaparecido, mas agora tínhamos duas carrinhas VW Transporter com três polícias cada e ainda o Polo... Hilariante! Até porque fomos para um sítio meio descampado, onde não havia grande concentração de pessoas. Uma palhaçada... O jantar compensou tudo: comemos “mechoui” que não é mais do que um cordeiro assado no forno, lentamente para manter a humidade, parecido com o nosso leitão. Mais uma vez comemos de pé e com as mãos!! E foi uma experiência fantástica porque nunca tinha comido nada assim... Simplesmente divinal! E o facto de arrancar a carne com os própios dedos dá uma sensação de primitismo peculiar.
Finalmente hoje, logo pela manhã, tive de ir acordar o nosso colega argelino que nos acompanha porque se deitou às 3 da manhã e não havia nada que o acordasse... Tive de entrar no quarto dele e abaná-lo!!! Perdemos a escolta “à grande e à francesa” e só os nossos amigos do Polo nos acompanharam, mas nem por isso fizeram menos barulho. Despedimo-nos de Oran, onde fomos muito bem recebidos e apanhámos mais um vôo de regresso a Argel, com o já famoso atraso... Ficamos mais quatro dias em Argel para terminar a missão. E na Irlanda já neva e faz -10ºC... Tempo de Natal!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Annaba, Argélia

Segunda-feira, 22 de Novembro de 2010
Chegada a Argel, já de noite no Domingo. Encontrámo-nos todos num aeroporto moderno e com boas condições. O nosso contacto já nos esperava e assim que recolhemos as malas, fomos conduzidos ao hotel. Passámos por auto-estradas com controlos policiais que reduzem as faixas de três para uma , dificultando o trânsito, já de si complicado. Conduz-se depressa, sem respeitar os traços nas vias ou os piscas. Vamos num jipe e o condutor acha-se todo poderoso porque enfia o veículo na direcção programada sem pedir licença. Deixamos as estradas maiores e entramos em ruinhas e ruelas ziguezagueantes, ora a subir, ora a descer... Passamos por ruas apinhadas de carros estacionados dos dois lados, num labirinto que parece não ter fim. Finalmente, depois de uma subida mais desafogada, chegamos ao destino, o Hotel El Biar. Nada de especial, muito pelo contrário. Decoração minimalista sem gosto nenhum, corredores de quartos que fazem lembrar os prédios dos anos 50 em Lisboa... Há internet à borla, o que é sempre bom, e um restaurante com comida barata e boa e que soube mesmo bem para um final de dia cansativo. Não estou aqui para turismo, por isso “dá para os gastos”.
De manhã somos recebidos com chuva e trovoada, um pequeno-almoço ainda mais minimalista que a decoração do hotel, onde as metades de “baguettes” torradas parecem ter sobrevivido penosamente ao fim-de-semana todo... Embrenhamo-nos de novo pelo labirinto da capital argelina e consigo avistar, não muito longe mas impossível de alcançar por causa do trânsito imóvel, a chancelaria da embaixada de Portugal com a nossa bandeira desfraldada. Sorrio... É como estar mais perto das origens, sabe bem e dá confiança para a reunião inicial. No centro cosmopolita de Argel, as ruas são largas, geométricas, mas não menos ocupadas por carros, autocarros, motas e pessoas e mais pessoas... Os prédios são altos, brancos, preenchidos por varandas de ferro forjado azul marinho, cada uma com a sua antena parabólica... Ao nível do rés-do-chão, grandes colunas criam arcadas que protegem as lojas e os transeuntes da chuva que vai caindo, rematando o toque colonial das avenidas. Não consigo perceber se há mais mulheres ou homens na rua, mas certamente vejo mais homens, aparentemente sem nenhuma ocupação, conversando animadamente nos passeios. Há muitos polícias, mas o caos automobilístico não desaparece.
Ao almoço podemos comprovar a qualidade do pescado fresco grelhado que aqui se consome, com um acompanhamento não menos delicioso que incluiu massa (espirais, mais concretamente) e cebola e nabiças salteadas. O mais chato é ter que levar com o fumo do tabaco... Sim, aqui pode-se fumar. Depois do trabalho finalizado, seguimos para o aeroporto, depois de passar amíude por mais controlos policiais e por 4 controlos seguidos mesmo à entrada do nosso destino. O check-in foi demorado e a espera pelo avião ainda pior... Atraso de duas horas. Para matar o tempo, conversa-se, anda-se e quando a fome apertou comprou-se chocolate Milka, modelo “Dark Alpine Milk Chocolate” e um pacote de “galletas rellenas de crema de fresa” da marca “Elgorriaga” (que parece que existe desde 1700...). Tudo, como puderam ler, produtos argelinos!O vôo foi, no mínimo, massacrante ao ponto de me ter feito enjoar nos últimos 10mn com a ajuda da turbulência. Voámos para o este da Argélia, muito perto da fronteira com a Tunisia, para uma cidade chamada Annaba. As ruas aqui parecem mais desertas, mas os nossos amigos polícias continuam a controlar tudo... Incluindo um dos jipes que faz parte da nossa comitiva, atrasando-nos ainda mais. O nosso “poiso” para as próximas três noites é o Hotel Seybouse, cinco estrelas. Fez-me logo lembrar aqueles prédios nas esquinas da Avenida de Roma quando se vem da Avenida dos Estados Unidos da América, só que um pouco mais alto (estamos todos no 11º piso). Na tradição do mais “kitch” possível, o interior é uma réplica fiel de um edíficio comunista, cuja decoração retro dos quartos nos transporta para um antigo filme de espiões da época da guerra fria. Peculiar, “sui generis”, mas engraçado. Pena a internet respeitar estes pregaminhos e não me deixar postar este longo texto. Vão ter de esperar por amanhã, quando estiver no lobby. Ah! E não houve jantar, por isso contentei-me com o resto das “galletas”...

domingo, 21 de novembro de 2010

Aeroporto de Dublin

"On the road again...", mas se calhar deveria dizer "on the air again...". Estou no lounge do aeroporto de Dublin a fazer tempo até embarcar para Paris e depois sigo para a Argélia. Repito o continente africano, mas desta vez a parte que está mais próxima da Europa. Vai-se falar muito francês e algum espanhol. O mais curioso é que vou viajar sozinho até Argel, onde espero encontrar o resto da minha equipa: o "grande" com quem me fartei de aprender no Ghana e uma colega espanhola que esteve comigo no Canada o ano passado. Mas desta vez quem manda sou EU!
Quando regressar já estaremos em Dezembro e a pensar no Natal e nas férias... Que bom! Até pode ser que haja neve na Irlanda, quem sabe? Pena ter de escrever o relatório quando voltar, mas vou tentar fazê-lo bem depressa para ficar despachado e dedicar-me mais à quadra natalícia.
Como sempre, vou escrevendo e partilhando quando puder, ok?
Um abraço.