sábado, 30 de novembro de 2013

Riyadh, Jeddah e Jazan - Arábia Saudita

Desde que cheguei a este país, na segunda-feira 25 de Novembro, que todos os dias tenho vivido experiências ou situações bem diferentes das que por norma acontecem quando viajo.

Começou logo pelas duas horas na fila de controlo de passaportes...
Primeiro contacto, apenas visual claro, com a realidade diária das mulheres neste país. Existe apenas um modelo de vestimenta, com uma só cor. Aquilo que nós imediatamente associamos à burca (usada no Afeganistão e no Paquistão) não é bem o que se passa no Reino da Arábia Saudita.
Ambas cumprem os requisitos do "hijab" (a forma das mulheres se vestirem de acordo com o Islão) mas aqui é composta pela abayah (uma peça de roupa negra, única, que cobre o corpo), com uma "niqab" (uma peça de roupa que cobre a cara e o cabelo e deixa só entrever os olhos, que às vezes tem um véu mais transparente para cobrir os olhos também). Obviamente que havia uma fila só para senhoras.
Tal como há tambem:
- uma fila específica para o controlo de segurança das senhoras nos aeroportos,
- uma secção dedicada às "famílias" nos restaurantes, onde os homens solteiros não podem entrar,
- locais de oração separados,
- lojas nos centros comerciais com um sinal à entrada que diz "Families Only",
- biombos prontamente disponíveis no restaurante do hotel para dividir as mesas das famílias (entenda-se um grupo de pessoas onde está pelo menos uma mulher) das restantes.

Os homens vestem uma espécie de robe branco (twab), que os cobre até aos pés, e um lenço (ghutrah) a tapar a cabeça. Por baixo têm um pequeno chapéu (tagia) que previne que o lenço caia e um duplo pedaço de corda negro (agal) por cima do lenço, no topo da cabeça. Este código de vestir promove a igualdade entre todos os homens, pobres ou ricos. E é branco porque, vá, isto é um deserto!

É um costume, no mínimo, curioso para um ocidental como eu, mas perfeitamente aceite e praticado por todas as mulheres adultas e até por algumas adolescentes. Explicaram-me que, apesar de estar ligado à religião, também é uma tradição lendária. Um príncipe viu uma vez uma mulher vestida desta maneira e disse que era a mulher mais bela que alguma vez tinha visto. Quando a notícia se espalhou, todas as mulheres se vestiram da mesma maneira na esperança de que o príncipe casasse com elas.
Isto não impede que hoje, num centro comercial de Riyadh, a sensação que transpareceu foi a de fantasmas a esvoaçar por todo o lado.

Mas bom, continuando… Riyadh é uma cidade… Aborrecida. Não há muito para ver. Ou melhor, haver até há, mas cinge-se a uma palavra: construção. E de tudo! Prédios, estradas, arranha-céus… EM Riyadh está a construir-se uma "cidade financeira" cujo denominador comum é a construção simultânea de todos os escritórios e arranha-céus que v\ao albergar bancos, a bolsa e outras empresas. De resto, não há passeios, nem transportes públicos pelo que a única maneira de nos deslocarmos é de carro. E numa cidade com 6 milhões e 700 mil habitantes, acreditem que não é fácil. No entanto, um dos argumentos utilizados pelo Reino para não autorizar as mulheres a sequer aprenderem a conduzir é… o aumento de veículos que isso representaria e o consequente aumento do trânsito, já de si caótico (pequeno sorriso!).
Mas vá, estou a ser mauzinho, muitos dos prédios novos são obras de arte a nível arquitectónico e de certeza que há um centro histórico (que espero ver na próxima segunda-feira) com edifícios mais antigos e de estilo puramente árabe.

Na terça-feira, viajei para Jeddah, sozinho. O avião que me levou era um Boeing 737 e estava à pinha. A maior parte dos passageiros masculinos estava vestido com o que parecia… duas toalhas brancas. Sim, uma para a parte de baixo do corpo, enrolada à volta da cintura, e outra para a parte de cima para cobrir o tronco e os braços. De resto… umas sandálias. Iam todos a caminho da peregrinação a Meca. Não o "Hajj", que é a grande peregrinação anual que todos os muçulmanos no mundo devem fazer pelo menos uma vez na vida, mas sim aquela que os muçulmanos com mais possibilidades podem fazer, a "umrah". Aliás, existe um canal de televisão dedicado a Mecca, que transmite 24 sobre 24 horas o que se passa naquele recinto sagrado, onde outras pessoas de outras religiões não podem entrar.
Eu não fui a Meca, mas levei duas horas de caminho numa auto estrada sem curvas e interminável até chegar ao meu destino: as instalações de uma empresa que ocupam cerca de 200km2 de terra, ou seja, maior que o Bahrein… Ah! E um calor de morte há meia-noite: 30 graus… Basicamente, a única coisa que fiquei a conhecer de Jeddah foi... o aeroporto.

Na quarta-feira fomos para Jazan. Tanto Jeddah como Jazan ficam na costa oeste da Arábia Saudita, aquela que é banhada pelo Mar Vermelho (é mentira, não é vermelho coisíssima nenhuma…). Jazan fica bem a sul, a 50km da fronteira com o Yemen. Foi um dia apenas, muito quente e passado longe da cidade. Mais uma vez, fiquei a conhecer o aeroporto (mais pequenino que os outros). E nada de mulheres a trabalhar nas empresas que visitei… Acho até que só podem exercer algumas profissões muito específicas (género lojistas em lojas de lingerie, médicas, enfermeiras…).

De regresso a Riyadh, o fim-de-semana (sexta e sábado) foi aproveitado para descansar, trabalhar um pouco, fazer exercício e matar saudades da família pelo skype (que invenção fantástica!). Amanhã, domingo, é dia de trabalho e logo pela manhã (05h45) para apanhar um avião para Dammam, a terceira maior cidade do país que fica na costa este.

Espero ainda poder dar mais notícias antes de deixar este interessante país.

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