sábado, 21 de abril de 2012

Postal para a minha avó...

Querida Avó,

Aqui estou eu desde a nossa última (e derradeira...) despedida (por falar nisso, achei que estavas muito bonita e tranquila) para te contar onde estou.

Este é o primeiro postal (se bem que virtual) que te escrevo desde um sítio improvável, como muitos por onde passo quando viajo a trabalho. Alguns deles tive o prazer de os partilhar contigo com fotos, ao telefone, ou mesmo contando-te ao vivo as emoções que senti, as paisagens que me deslumbraram e as pessoas que conheci. Tu sempre ouviste com atenção e aquele sorriso meigo e nunca te deixaste de te preocupar comigo. Sentia isso sempre que te ouvia dizer: "Ai filho, isso é tão longe... Vê lá... Tu come bem e cuida de ti!".

Não tive a sorte de te poder receber na Bélgica ou na Irlanda, mas consegui de vez em quando trazer-te um bocadinho das minhas casas "emprestadas". Posso dizer-te agora que tenho, finalmente, uma casa minha, ou melhor, metade de uma casa porque a minha cara-metade é dona da outra. Tu conheceste a Lenka muito pouco mas podes ficar contente por mim porque ela me faz muito feliz e é muito minha amiga. O amor tem destas coisas, cria altos e baixos na nossa vida que temos de saber sempre aproveitar, seja para aprender uma lição, para ficarmos mais fortes ou apenas para vivermos uma grande paixão ou um grande amor. E tu sempre estiveste por perto para uma palavra amiga, um conselho e sempre dando muito ânimo. Não se sei te cheguei a dizer algum dia, mas digo hoje: muito obrigado.

O sítio improvável onde vi parar chama-se Shetland. São umas ilhas a nordeste da Escócia, a meio caminho de distância da Noruega. No avião, pequenino e apertado, lembrei-me de que me disseste uma vez que gostavas muito de voar porque gostavas de ver as nuvens debaixo de nós. Penso que agora tens uma visão priveligiada para poder apreciar essa divinal paisagem todos os dias, do teu lindo jardim, com o avô (não te esqueças de lhe mandar um grande beijinho meu e de lhe dizer que o Benfica ganhou hoje ao Marítimo por 4 a 1!).

A paisagem das ilhas é estranha, um tanto lunar (e lua faz-me sempre lembrar a história que me contavas do ratinho cheio de fome a olhar para a "lua redonda como um queijo"...), despida de qualquer árvore. A contrapor este deserto, tem imensa água, que corre por todo o lado, imensas ovelhas que dão uma lã muito conhecida (pena não te poder levar uns novelos para tu fazeres umas camisolas, uns gorros ou umas luvas para os netos todos...) e uns bonitos póneis que não fazem mais nada se não pastar calmamente, mesmo que esteja a chover torrencialmente.

Estou longe de casa, mais uma vez, porque vim ao Reino-Unido, país do inglês que tu sempre quiseste aprender, para fazer uma auditoria. Já estive em Londres, onde está o Nuno, em Belfast, na Irlanda do Norte, no sul da Inglaterra e agora neste pedaço perdido da Escócia. Está a custar-me muito fazer o meu trabalho porque tenho muitas saudades tuas... Mas vou fazê-lo, por ti, porque sempre me ensinaste a ser honesto, verdadeiro, trabalhador, educado e responsável e eu não quero nunca deixar-te mal.

Tenho quatro colegas comigo, todas mulheres, que me têm ajudado muito e sem cujo apoio eu não conseguiria ter ido visitar-te. É um verdadeiro trabalho de equipa, assim como tu e o avô quando organizavam tudo para irmos para a Lagoa de férias ou aqueles almoços e jantares de família na vossa casa. Ainda me lembro que a última vez que vi o avô foi precisamente durante um almoço lá em vossa casa.

Vou continuar por estas ilhas por mais uns dias e tentar tirar umas fotos para mais tarde recordarmos, mas tenho a certeza que vais andar comigo durante este tempo todo, ao meu lado, a disfrutar de todas as coisas que a vida nos tem para oferecer. Eu gosto disso. Até pode ser que amanhã não chova porque parece que as nuvens se estão a dissipar... Não me digas que foste tu?!?!?! Sempre a mimar os netos, ai, ai...

Bem, com isto me despeço, com muito carinho, muito amor, muita saudade e com um obrigado imenso por tudo o que fizeste pelos teus filhos e pelos teus netos. Espero poder um dia contar aos meus todas as histórias e cantigas que me ensinaste, cozinhar para eles todas as comidinhas boas que fizeste para nós e brincar muito com eles como tu soubeste fazer connosco.

Muitos, muitos, muitos beijinhos Avó.
Do teu neto que te adora.
Telmicos.

P.S.: O Scott manda umas lambidelas meiguinhas nos dedinhos.

2 comentários:

romat@sapo.pt disse...

Querido Telmo!

A tua forma de mimares quem te é querido, não tem descrição! Sorte tem quem te entra no coração:) Um beijo grande com a certeza de que vais certamente fazer, como sempre, um excelente trabalho!

Anónimo disse...

Que bonito. Que bom que é termos tantas e tão boas recordações da nossa Arlete. Ela vai estar sempre nos nossos corações e acompanhar-nos para que a nova vida corra pelo melhor. Boa missão e muitos beijinhos. Tia Nita